quinta-feira, maio 31, 2007

772 - brincar a sério

dia da?
dah...
todos os dias o são
todos

771 - cha rua por tu ga(nhar fama)

Não vou brincar aos «links», contudo, podem utilizar o rectângulozinho branco lá em cima, escrever: cruz, charrua, sargento e ler aquilo que penso sobre o assunto.
O caso Charrua, como o caso sargento é uma construção da pseudo-comunicação social que temos, nisso eu e o camarada Vítor Dias concordamos (afinal cá vai «link»).
Ninguém sabe aquilo que Charrua disse, ninguém sabe quanto custou a criança [confesso que tenho curiosidade, se sabemos o preço de Nani, de Simão, de Anderson porque não o de Esmeralda/Ana Filipa?]
Extrapolando a partir daquilo que não sabemos, utilizando, apenas, os factos [aquilo que é, comprovadamente, verdadeiro] farei um jogo de perguntas e respostas...
1. Charrua é um professor normal?
Não, é um ex-deputado na Assembleia da República. Não exerce nenhuma actividade lectiva. Está requisitado pela Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) para exercer um cargo de confiança política.
2. Confiança política, significa confiança no horário de expediente e fora?
Sim, confiança, significa confiança.
Será que Charrua cumpriu aquilo que se esperava dele?
Se não (e tudo indica que não) não aceitasse o cargo.
Já é «prostituição» suficiente um ex-deputado do PSD estar a exercer cargos políticos num governo PS, não se arme, ainda, em virgem ofendida.
Acha que o gajo do «jogging» internacional é um palerma (para não dizer outra coisa), que a directora o persegue politicamente... cá para nós leitor, o que faria?
Eu, certamente, diria:
-Não pactuo mais com isto, cessem a minha requisição, quero voltar à minha escola, ensinar inglês aos meus queridos alunos ... os professores que me lêem por certo concordam, professor que é professor quer é estar perto dos meninos, jamais interpretaria um regresso à escola onde é efectivo como um castigo, pois não?

quarta-feira, maio 30, 2007

770 - a fricção do mundo


Tinha pensado em falar do «blog» e tal, do primeiro aniversário, do segundo aniversário...
Não o vou fazer, partilho convosco o meu primeiro texto publicado (não é grande espingarda).
Naquele tempo (ver capa) partilhava uma revista com Agustina, com Bénard da Costa, com Vasco Pulido Valente e especialmente com Leonardo Ferraz de Carvalho e Manuel Hermínio Monteiro, que a terra seja leve para os dois últimos.
Um dos últimos «posts» chama-se: «pode alguém ser quem é?» canta o Sérgio: «pode alguém ser quem não é?».
Quem somos?
Nesse texto eu sou (eu fui) Afonso H. d' Ávila, um nome improvável, uma personagem com uma linguagem própria (julgo que nunca empreguei a palavra garina, excepto ali) ... Vila Nova de Punhete, nunca existiu, tal como nunca existiu Vila Nova de Constância, esta última continua imortalizada (as palavras) pelo pincel de Malhoa no tecto da Igreja Matriz.
Aquele texto é uma brincadeira à volta de palavras e de conceitos, uma brincadeira dum puto de vinte e tal anos que com quase quarenta não tenho problemas em assumir.
Este «blog» é uma brincadeira séria, nisso não mudei muito.

[já tinha aflorado esta história ... aqui]
(acrescentado às 23H50)

769 - era a minha independência


768 - quase perfeito

Ok, tenho, novamente, um aparelhito para brincar às digitalizações, yes...

767 - pode alguém ser quem é?


Três é uma festa?
Este «blog» está quase lá ... no terceiro ano.
(mais logo o balanço possível)

terça-feira, maio 29, 2007

766 - um título (o título)


Como nasce o sacana dum «post»?
Este, por exemplo, surgiu, nasce como um caroço de azeitona que se coloca na mão e se aventa para a terra, desse aventar (atirar ao vento) nasce uma planta, brota algo, livre, sem redes, nem etiquetas...
Este, dizia, nasceu deste comentário:
Sim, Pedro: outros carreiros, outros cantos.
É preciso!
Esta feira foi de "interrupção não voluntária" há 4 anos, nos 4 Cantos do Cisne. E na altura quem "se serve" respondia que não havia condições nos "Verdes Cantos" para fazer e dar continuidade a uma feira; Por isso não se apoiou lá a sua génese.
Afinal, o Parque Ambiental bebeu muita coisa lá na Pereira, serviu-se.
Vai-se ver a Feira da Primavera e... ali esteve ela GIGANTE - com 5 (!) mesas de venda nestes dias...
Lá em baixo - estava para se chamar Silvestre, estava para ser um fortalecimento do Concurso de Gastronomia, estava... para resultar!
Mas os bons Gigantes de Constância resolveram transportar a sabedoria, o conhecimento, as folhas e os frutos da Mãe Natureza para um Parque Artificial regado de intervenções e participações de alguns Bons Humanos.(Ainda resisti, mas não consegui, foi esta tua deixa que transbordou no meu monitor e pelo teclado...) *
São palavras dum miúdo, dum jovem como, ironicamente, me chamou o actual presidente da câmara quando me teve de galardoar (sim, tinha concorrido sob pseudónimo a um concurso de fotografia, segundo lugar, cem euros) ... é pá! é um jovem do nosso concelho [jovem, senhor presidente? (sei ser formal)] é pá, pois...
Bem, esse prémio valeu pela oportunidade que tive de o receber das mãos de Manuela Azevedo, o prémio (a verdadeira recompensa) foram dois beijos e um sorriso...
Miúdos como o Rui, como eu, como a Anabela (o que será feito da Anabela?) perceberam que era pela formação que seríamos alguém, que era importante aliar educação com instrução, que era útil adicionar à utensilagem prática a utensilagem técnica, que era importante sair para poder voltar, Coimbra, Lisboa, Mundo...
O Mundo só não faz falta aos acomodados, aos que se contentam em ser vinte ou trinta anos a mesma coisa, os outros, os inconformados têm sede de conhecimento, de projectos, de mais e melhor para a freguesia e para o concelho.
O espaço onde hoje é o parque artificial (boa malha, Rui) era um espaço, completamente, selvagem que quase todos os dias (quando estudava na Telescola) eu percorria a pé.
Julgo que o Eng. Tiago é um achado, aliás, julgo que se está a estragar neste concelho, é uma pessoa dinâmica e com ideias próprias, tive oportunidade de fazer alguns passeios pedestres com ele e pareceu-me um excelente profissional, isto para dizer que o Parque tem potencialidades, tem mão-de-obra qualificada, obviamente, é mal dirigido (de cima).
A Feira da Primavera foi mal preparada?
Obviamente...
Fim de semana da peregrinação diocesana a Fátima, final da taça de Futebol, enfim é o nosso Fado.

765 - respeito-te muito, puto

O meu amigo (blogosférico) Tomás Vasques que me desculpe mas não concordo.
É fácil acertarmos no euromilhões no sábado de manhã.
Quando penso no Paulo recordo um almoço em Oviedo, um empregado de mesa português a trabalhar em Espanha e aquilo que me disse:
- Paulo Bento é fantástico, não só pelo que joga mas pela atitude, é um líder no campo e fora dele ... aqui todos gostamos dele
Na altura Paulo, para mim, era mais um jogador escorraçado do Benfica (depois de ter representado o Vitória de Guimarães e o Estrela da Amadora).
Recordo, ainda, isto:
Não estou triste pela atitude do Paulo no jogo com o Benfica, mostrou que é um homem que aprende com os próprios erros.
Bom era que todos tivessemos a humildade de fazer o mesmo, este ano o campeonato (a liga ou lá o que é) tem um protagonista, foi decidido por um homem ... seria bom que como homem de fé: «Profundo devoto de Deus, Ronny Carlos da Silva garante não conseguir viver sem Ele, e do mesmo modo, todos os pacenses 'rezam' » assumisse aquilo o que fez, as mãos usam-se para jogar andebol ou para rezar, nunca para envergonharem uma localidade (Paços de Ferreira) e em última análise um país*.
Paulo, agora, sabe que a sua estrela brilhará, que esta foi, apenas, a primeira de muitas vitórias como treinador.
Parabéns, portanto.
* Como se sentirá Jesualdo Ferreira quando no sorteio da Liga dos Campeões, o Futebol Clube do Porto se apresentar como campeão? Como suportará os risos e os comentários de portugueses e estrangeiros que sabem que quem venceu dentro do campo e com as regras do futebol foi o Sporting?

segunda-feira, maio 28, 2007

764 - haja coração

Há gajos com o coração grande.
Agora só falta criar uma fundação (diz que dá jeito por causa dos impostos) e organizar jogos para os «pobezinhos».
(sei lá, «pecebe»?)

763 - bufaria a marinar

«Ela fê-lo, anteontem [quinta-feira], na escola EB 2/3 do Cerco do Porto perante pais, encarregados de educação e professores, quando, ao fazer uma apresentação do programa Novas Oportunidades, disse, alto e bom som: "Agora é que o senhor engenheiro Sócrates, com estas novas oportunidades, pode acabar o curso".
Por que é que a acusa de fazer perseguição política?
«Ela faz-me perseguição política há bastante tempo. O doutor António Basílio, que agora assina esta calúnia, sabe o que eu valho naquela Direcção Regional de Educação. É feio dizer isto, mas eu tenho-me como funcionário exemplar, nas matérias em que trabalho. »
Charrua... entrevista: aqui
Afinal parece que o HERÓI NACIONAL é um queixinhas ... a senhora é má, persegue-me, os senhores jornalistas, os senhores políticos e os meus colegas professores são bonzinhos, mas a Margarida é má, é má é má...
- Ouve lá ò Charrua, a Margarida pode ser má, mas o SANTAMARGARIDA não gosta de anedotas sem piada nem de queixinhas, gosta de gajos com o peito peludo (salvo seja) que assumam as merd** que fazem.

domingo, maio 27, 2007

762 - viva o 10 de junho

a quem será penduricado isto, este ano?

761 - andebol, mão


Futebol,

sábado, maio 26, 2007

760 - festa da primavera

Vão acontecendo coisas boas em Santa Margarida, neste Parque.
Olho pela janela e vejo as banquinhas a serem alindadas para a festa que começará logo.

quinta-feira, maio 24, 2007

759 - charrua e borrego, um «post» campestre

Os leitores sem memória poderão recordar a anedota.
Na altura contar anedotas não era sinónimo de liberdade de expressão, nem de anti-fascismo, na altura demitiam-se professores por as contarem (não me lembro de nenhuma indignação).
A propósito de anedotas e de professores lembrei-me desta questão:
«Quantas pegadas deixa um boi que esteve a lavrar todo o dia no seu último sulco?»
Qualquer puto do campo conhece a resposta.
Os citadinos e aqueles que se armam, provavelmente, não sabem qual a posição do boi, nem da charrua muito menos saberão qual o cheiro da terra sulcada...
«Um boi não deixa qualquer tipo de pegadas no seu último sulco. Isto é porque o boi vai à frente da charrua, e a charrua segue-o. Por isso por muitas pegadas que o boi dê na terra lavrada ao ir à frente, todas elas a charrua destruirá por ir atrás a lavrar. »
Há lavras diferentes ... aquelas em que os bois seguem charrua.

758 - 3474*

* todos nós mais cedo ou mais tarde somos um número, apenas...

terça-feira, maio 22, 2007

757 - lol(a)

O nome perseguia-a.
Espanhola em Portugal.
Muito nova decidira que estudar seria o seu futuro, ajudar os outros era a sua vocação.
Era dura e sólida.
Raramente lhe víamos um sorriso na face emoldurada por cabelos de neve.
Hoje, dia 19 de Maio, sentia-se, especialmente, cansada, uma noite sem dormir (a farmácia estivera de serviço) telefonemas durante toda a noite de pessoas que sentiam falta, não de conselhos médicos, nem de medicamentos, sim de palavras de conforto.
Dormira, qualquer coisa, já depois do Sol raiar, por volta das nove teve de sair, o pai, o paizinho, que sobrevivera à guerra civil espanhola, estava entre a vida e a morte com um enfarte agudo no miocárdio ... ataque cardíaco, gritara-lhe Viriato para o telemóvel.
Saiu, colocou um aviso: Volto Já
Aplicou metoprolol, propranolol, esperou pela ambulância, beijou o pai (talvez pela última vez) e regressou à farmácia ... agora a vida do pai estaria nas mãos dos médicos, tal como o campeonato esteve na mão de Ronny.
Por volta das dez horas entram três tipos vestidos de lycra com uns capacetes pontiagudos na cabeça que lhe perguntam:
- Há possibilidade de arranjar material para desinfectar o braço de um colega?
Depois de uma noite sem dormir, de olhar o pai, provavelmente, pela última vez, Lola respondeu, apenas:
"aqui não fazemos curativos!"
"não tenho produtos abertos!"

756 - como?

Os meus leitores mais atentos já se aperceberam que tenho a mania de «armar ao pingarelho», que não refiro (evito ao máximo) a minha actividade profissional, desde logo porque ela me obriga a sigilo, por outro lado porque não gosto de cuspir no prato da sopa* não posso, contudo, deixar de referir, de partilhar esta frase:
conforme move e mento em anecço...

* acho óptimo o inquérito ao ex-deputado do PSD, Dr. Charrua, enquanto cidadão procuro respeitar a opinião e as opções sexuais dos outros. «Bicharel»? A questão é esta: - Dir-lho-ia cara a cara? ... não quero estar aqui com falsos moralismos, também conto anedotas, sexistas, «racistas» (de alentejanos, por exemplo) e tal não o faço é no meu local de trabalho, nas horas de expediente e acerca dos meus superiores hierárquicos. No dia em que as opções sexuais dos meus superiores me incomodarem demito-me ... é simples.


755 - os do outro lado

A casa libanesa do meu menino, o único afilhado que tenho ... já tinha falado dele.
Pelas palavras e pelas fotografias de Artur Caracho, sinto-o mais perto (obrigado, João Fialho e Mourato Talhinhas, um abraço para ambos).
«É possível ver uma mulher com as vestes negras Xiitas tradicionais, da cabeça aos pés, e ao mesmo tempo uma mulher de mini saia e de decote arrojado.»
Como?
Estava eu preocupado... com que então mini-saia e decotes arrojados!
Um abraço campeão*, até sábado (ou domingo).
* ninguém fala nisso, mas o treinador que o Boavista contratou no defeso foi campeão, o resto são tretas (merecias estas palavras, afinal não existem muitos adeptos do Boavista em Santa Margarida da Coutada)

domingo, maio 20, 2007

754 - pelos olhos de david

- Mãezinha, o Ricardo hoje está com uma camisola toda verde é bom sinal, não é?
- É, meu querido, é sinal que estamos com esperança...
Antes do jogo uma coreografia lindíssima, o estádio todo de branco e verde vestido, cantava-se, vibrava-se, contudo, pairava uma alegria triste.
Primeiro golo, saltos e mais saltos, uma alegria.
Segundo golo.
Golo do Aves, agora sim, uma felicidade imensa, foi o golo mais festejado.
Depois o Porto começou a marcar...
No estádio as gargantas calaram-se, a nortada gelava.
- Mãezinha, ficou frio de repente, estamos a ganhar, não estamos?
- Estamos, amor (dizia-lhe a mãe, olhos verdes... brancos de lágrimas, palavras soluçadas)
- Mãezinha! Vencemos, porque estão as pessoas tão tristes?
- Meu querido, ganhar não é tudo na vida, as únicas vitórias importantes são as vitórias justas, as pessoas não estão tristes estão revoltadas, por dentro estão confortadas, não viste como aplaudiram os jogadores? Elas sabem que fomos vencedores no campeonato da verdade.
Talvez seja feio escutar as conversas dos outros, talvez não seja comum uma criança de quatro/cinco anos ser tão «perguntadora», talvez não seja suposto fazer festinhas na cabeça da criança (sob o olhar cúmplice dos pais) e dizer-lhe:
- Fomos campeões, David
(valeu a pena para o ver sorrir)
Daqui a uns anos, David, lembrar-se-á dum gajo gordito e meio careca («blogger em «part-time») que o confortou e lhe disse uma mentira.
As mentiras às vezes são mais verdadeiras que a verdade.
David um dia perceberá que nem sempre os Golias se afundam, normalmente, flutuam como icebergs.

753 - a explicação da «coisa»

Há um gajo que tem um livro cujo título começa com a palavra: Explicação ... ora se ele pode, eu, também, posso.
Este «post» intitula-se a explicação da «coisa».
- Qual «coisa? [perguntam]
- Esta coisa ... [respondo]
Vou remomorar os cerca de dois anos que passei a escrever, diariamente (em média) ... os quase quarenta anos que passei a viver (em média, em mini às vezes).
Tenho quarenta anos (quase) ainda não escrevi um livro, não plantei nenhuma árvore e
Provavelmente estou a perder alguma coisa.
Às vezes é importante que se leya (não resisti ao trocadilho) é importante reler, às vezes revisitar o passado serve, apenas, para constatarmos que ele já não existe...

752 - morrer e ressuscitar

A ancestralidade e o destino colectivo plasmados no condão de uma palavra. A saudade a crismar o mistério de uma raça perpetuamente a morrer e a ressuscitar.
Miguel Torga
Mais logo o destino colectivo será decidido num pontapé ou numa cabeçada certeira (ou , provavemente, numa apitadela errada).
Estarei lá no Coliseu a vibrar pelos Leões contra os homens da cruz de Cristo.
Dois morrerão e, apenas, um ressuscitará.

sábado, maio 19, 2007

751 - a camisa branca de josé

Uma camisa branca, uma consciência preta, um ar pouco sério, um nome, algum dinheiro, eis tudo o que se exige a qualquer bandoleiro para representar a farsa desta vida.
Guerra Junqueiro

750 - xutos & pontapés na borracha

Tudo em ti deixa de ser Tudo em ti deixa de existir Continuas a insistir A jogar com os Dados Viciados
Por isso digo toma cuidado Por aí não vais a nenhum lado
Não há volta Sem partir O que foi não volta a ser
Quando alguém pensa que és deus E tem poder para fazer o que faz Cria mentiras já com intenção
E uma vontade de ir Correr o mundo e partir A vida é sempre a perder
Falhas todos temos
Mas tenta pensar melhor da próxima vez
Porque rebolar no lodo só serve para te sujares

Palavras e imagens retiradas deste «site»
Parabéns ao dono da Leya pela inspiração.

749 - a gente não lê

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira
Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém

Ser pequeno, ser ninguém ... lembra-me, algo.
A gente não lê?
... então, leya

sexta-feira, maio 18, 2007

748 - encontro de «bloggers» (versão tudo como dantes)

Um «post» hesitado, hesitei antes do escrever, porque poderia magoar pessoas que não merecem ser magoadas, porque poderia ser mal interpretado... escrevi (estou a escrever) porque tenho saudades de uma Abrantes que conheci...
Uma Abrantes que começava na Rodoviária, continuava pela Munique (casa de artigos desportivos), pelo Pelicano (hoje é uma loja de trapos, julgo...), pelo muro (dito da vergonha) onde os jovens se abraçavam e beijavam, pelo Huambo (café/casa de chá) pelo Combinado onde um amigo (hoje escritor) colocava esta treta a tocar logo de madrugada, um «single» numa «jukebox») não era, João ?
Íamos a pé para o liceu, putos, felizes, livres...
Uma Abrantes onde a actual vereadora da cultura ensinava História [ensinava, mesmo], o prof. Zeca, bebericava vinho verde e catrapiscava as alunas na (no?) Tiborna, uma Abrantes de P.F. e de feira com carrinhos de choque, de boleias, de encontros (e desencontros), da polémica construção do Hospital... de quando o Rossio era logo ali (quem me dera notas de 500 euros como as vezes que fui a pé para o Rossio), uma Abrantes sem «blogs» (nem vaidades).
Às quartas-feiras, «matiné» na Don Napoleon.
Escrevo e lembro.
Lembro o local onde nasci: Casa de Saúde de Abrantes, rodeado de meninas ... desde logo a minha mãe (sim, ela estava lá) e as enamoradas de Deus, curiosamente, parteiro (médico) comunista.
Naquela altura...
Julgo que me afastei (afastei-me a mim) ligeiramente, do tema.
O interessante da coisa é que sendo o «blog» meu, o tema é o que eu decido...
Este (a julgar pelo título) falaria de Abrantes.
Quem sou eu para falar de Abrantes?
Nasci em Abrantes...
Estudei em Abrantes...
Fui «homem» em Abrantes...
Fui comandante (de pelotão) no Regimento de Infantaria de Abrantes [sttl]*
Obviamente, não sou um «blogger» de Abrantes...
Os verdadeiros.
Podem jantar, hoje...
Nota final: estava prometido: "Encontro restrito ... é muito restrito mesmo, só eu. Ainda falta uma versão:«tudo como dantes»"
* vá, não de zanguem, afinal... exclusão? ou inclusão?

quinta-feira, maio 17, 2007

747 - helena

Diz a História que foi causadora (causa+dor+a) da única guerra com sentido.
Apesar de casada com Menelau, Rei de Esparta, Helena apaixona-se perdidamente por Páris, o charmoso príncipe de Tróia. Os dois amantes fogem para Tróia, onde o Rei Priam, pai de Páris, lhes dá guarida. Tal situação desencadeia a guerra, com o impiedoso Agememnon, irmão do Rei, a liderar o portentoso exército espartano até às portas da cidade fortificada.
Apesar de casada com Pedro Roseta, Helena «apaixona-se perdidamente» por Pedro *, o charmoso príncipe de Lisboa. Os dois (presidente e vice-presidente) fogem para a concelhia de Lisboa do PSD, onde o Rei Cavaco**, lhes dá guarida. Tal situação desencadeia a guerra, com o impiedoso Pinto Balsemão, «irmão do Rei», a liderar o portentoso exército espartano até às portas da cidade fortificada.
*Santana Lopes
** Cf. com preliminares para o Conselho Nacional do PSD, Verão de 1980
Créditos:
http://www.sabado.xl.pt/ [pp. 64-66, 2007.05.17]
Bem, este deve ser o «post» mais «non-sense» que escrevi.
Não voto em Lisboa.
Não votaria em Helena.
Não votaria no «queixinhas».
Não votaria no ex-candidato a Loures (não me esqueço da disputa entre um burro e um Ferrari).
Não votaria.
Ainda assim, tenho a certeza, que é nos movimentos independentes que está a verdadeira cidadania, se votasse em Lisboa, assinaria.
A verdadeira democracia é darmos oportunidade de falar aqueles que pensam de maneira diferente da nossa.

746 - acontece-me tudo

Agora descubro jogadores para o benfica.
- André*, quando fores grande lembra-te do Pedro, ok? (se não fosse este «blog» não passavas da cepa torta)

* (o Benfica tem um centro-campista fabuloso: André Carvalhas. Joga com o 10 nas costas e a cabeça levantada, se estivesse no Sporting era titular da equipa principal assim, provavelmente, acabará emprestado ao Estoril ou ao Alverca).

quarta-feira, maio 16, 2007

745 - madraços*

Já tinha abordado o tema das praxes.
O Sr. Dr. Rui Lopes alertou-me para este caso, esse alerta mostra que existem pessoas que apesar de benfiquistas (ninguém é perfeito) possuem algum «fair-play».
Este ano após participar (como convidado) numa benção das fitas na UBI percebi (já tinha percebido) a hipocrisia que preside a este tipo de comemorações ... tradição académica na Covilhã?
Não há lei neste país?
Danificam-se os coisos a um gajo e dizem-nos isto:
«O dux veteranorum da Universidade de Coimbra confirmou a queixa e garantiu que “as pessoas – também pertencentes à Faculdade de Medicina – estão devidamente identificadas”. “Ainda não estou na posse de todos os dados, mas esta semana serão feitas todas as averiguações”, garantiu João Luís Jesus.»
Quem é este gajo (pergunto eu)?
O puto fica com os «tintins» danificados... se preferirem numa linguagem mais técnica:
«alguns doutores raparam os pêlos púbicos a um caloiro de Medicina e, ao fazê-lo, terão rompido parte do escroto do aluno»
e é o «dux veteranorum» que faz as averiguações?
Outra agulha...
Nunca vesti um traje académico e estudei (completei uma licenciatura) na Universidade mais antiga do país (a clássica de Lisboa, obviamente) nunca praxei ninguém (nunca fui praxado).
Estive na Universidade como estou na vida, com respeito pelos outros, com respeito por mim.
Respeitar implica não humilhar.
Respeitar implica respeitar as diferenças.
Durante o meu curso (fui sempre trabalhador-estudante) tive vários trabalhos, curiosamente, recordo com carinho os meus camaradas nas obras (no Prior Velho / Loures) que me incentivavam e de algum modo sentiam orgulho que um deles fosse estudante universitário, isto para dizer, que para mim eram mais prestigiantes as calças de ganga coçadas, a camisola suja, que ficava pendurada num prego no vestiário que o fato negro e a camisa branca, displicentemente, vestidos por alguns que nunca precisaram de suar a roupa (comprada pelos papás) que envergam.
* madraços, madrassa ... é semelhante, não é?

domingo, maio 13, 2007

744 - as catástrofes e as leis da emoção [2/2]

Dois mil javaneses sepultados no terramoto, a Hungria inundada, soldados matando crianças, um comboio esmigalhado numa ponte, fomes, pestes e guerras, tudo desaparecera – era sombra ligeira e remota. Mas o pé desmanchado da Luísa Carneiro esmagava os nossos corações... Pudera! Todos nós conhecíamos a Luisinha – e ela morava adiante, no começo da Bela Vista, naquela casa onde a grande mimosa se debruçava do muro, dando à rua sombra e perfume.
versão reduzida
versão ampliada: aqui

743 - as catástrofes e as leis da emoção [1/2]

Desde que não conversamos, meus amigos, este nosso Velho Mundo e os outros mais velhos que se estendem para Oriente têm sido visitados por males inumeráveis, uns trazidos pelas violências da Natureza, outros pela violência dos homens, porque o consciente e o inconsciente (se é que este realmente existe) rivalizaram, como sempre, na produção da dor.
No Japão foi um desses pavorosos «macaréus», que tanto assustavam os nossos navegadores do século XVI, invadindo em desmedido vagalhão léguas de costa e lambendo aldeias, cidades, centenas de milhares de criaturas, como se fossem apenas conchas e areia leve. Na China a costumada trasbordação de rios, afogando nessa noite quinhentos mil chineses, um milhão de chineses, todo um imenso e escuro formigueiro chinês, com a simplicidade com que entre nós um riacho, depois da chuvas, alaga um feijoal em uma horta ribeirinha. Na Índia a peste junta com a fome, à velha maneira oriental, com esse horrendo feitio das expiações bíblicas em que os esfaimados findam por comer os cadáveres, e os pestíferos, aos centos, agonizam à beira dos caminhos, em breve todos brancos de ossadas. Na Arménia uma prodigiosa matança de trezentos mil cristãos, metodicamente dirigida pelas autoridades muçulmanas, com muita ordem, muito vagar, horas regulamentares para assassinar e para descansar e uma escrupulosa escrituração. Na Turquia e na Grécia uma guerra, que não ressuscitou a luta clássica do orientalismo e do helenismo (porque já não há orientais e ainda menos helenos), mas renovou uma briga entre a cruz e o crescente, briga toda concebida no espírito do século XIX, racionalista e positiva, em que os príncipes cristãos (até o papa) se colocaram num utilitário entusiasmo do lado do crescente, de sorte que a cruz teve de fugir com um dos braços partidos por esses caminhos tessálicos por onde outrora o Grego costumava alegremente acossar o Persa numeroso. Na ilha de Creta, tão querida a Júpiter, horrores inenarráveis, sob a vigilância pensativa e paternal de seis esquadras da Europa. Em Espanha bombas e suplícios. E enfim neste Paris o dia doloroso em que a ciência, sob a forma de um cinematográfico, queimou por seu turno, num vasto auto-de-fé, a religião, representada por piedosas senhoras que celebravam uma festa de devoção e caridade católica...
Mas eu não sei, meus amigos, se estas desgraças realmente vos interessam, vos comovem – porque a distância actua sobre a emoção exactamente como actua sobre o som. A mesma dura lei física rege desgraçadamente a acústica e a sensibilidade. É sempre em ambas o idêntico e tão racional princípio das ondulações, que vão decrescendo à maneira que se afastam do seu centro, até que docemente se imobilizam e morrem: se elas traziam um som que vinha vibrando – o som cala quando elas param: se traziam um terror que vinha tremendo – o terror finda quando elas findam.
Bruscas, grossas, frementes, rápidas em torno ao choque que as produziu, essas ondulações não são mais, nos horizontes remotos, do que um vago, quase liso arfar, que mal se diferença da inércia. Senão vede! Em Pequim, subitamente, uma tarde, ribomba um pavoroso trovão – e ao mesmo tempo pega fogo na vistosa cabaia de um mandarim muito ilustre, que morre queimado. Por todo Pequim a impressão é tremenda. Até o imperador, filho do Sol, nos seus grandes jardins, estremeceu, aterrado com aquele imprevisto troar de um céu puro: e nas vielas mais sórdidas os coolies mais piolhentos interromperam um momento o seu negro trabalho para lamentar com exclamações o mandarim muito ilustre. Mas aí está! A vinte ou trinta léguas de Pequim o terrifico trovão foi apenas um rumor que se confundiu com o rolar das carroças nas lajes – e, quando se contou nas lojas loquazes dos barbeiros o desastre do mandarim em chamas, só algum nédio funcionário, com sabão na bochecha, murmurou oficialmente algum «ah!» desinteressado e mole...
É que o som do trovão e a emoção do desastre vieram trazidos por ondulações, que, a trinta léguas de Pequim, seu centro vivo, já se alisavam, imobilizavam, morriam.
E quando aqui na Europa, de manhã, sabemos pelo telégrafo bisbilhoteiro do mandarim e do trovão, nem o nosso ouvido sente o mais ténue som, nem o nosso coração a mais ténue piedade.
Não ondularam até nós as ondulações acústicas e emotivas. E é com absoluta placidez que murmuramos: «Houve em Pequim um grande trovão; e – tem graça! – ardeu um mandarim!»
Mas então essa confraternidade humana – pela sublime força da qual nada do que é humano deve ser alheio ao homem? Não existe? Oh, certamente – mas para todo o homem, mesmo o mais culto, a humanidade consiste essencialmente naquela porção de homens que residem no seu bairro. Todos os outros restantes, à maneira que se afastam desse centro privilegiado, se vão gradualmente desarmonizando em relação ao seu sentimento, de sorte que os mais remotos já quase os não distinguem da Natureza inanimada. Quando qualquer de nós, no seu quieto e salubre bairro, ouve contar que uma furiosa peste matou trinta mil patagónios, fica exactamente penetrado daquela quantidade de compaixão que o invadiria ao saber que um furacão derrubara trinta mil árvores de um bosque. E de um bosque muito longínquo, de uma região muito desconhecida! Porque se as árvores destruídas fossem as do nosso doce Bosque de Bolonha, que nós amamos, tão ornadas e verdes em Maio, tão puramente vestidas de branca neve quando o Inverno se faz elegante e fino – a nossa mágoa teria uma intensidade infinitamente mais viva do que com a aniquilação desses vastos milhares de patagónios.
E esta estreiteza da emoção deriva de leis tão fatais que não se dá somente nas almas de caridade estreita – mas ainda nas mais ternas e nas mais largas, naquelas que parecem abrigar na sua amplidão do padecer humano... O bom senhor S. Vicente de Paulo, a quem o encontro de uma criancinha tremendo de frio ao canto de uma rua arrancava prantos desolados, que corriam enquanto ele corria com a criancinha sofregamente apertada nos seus braços, só teria um pálido e resignado suspiro quando ouvisse que, também na Tartária, em outras vielas regeladas, outras criancinhas tiri-tavam e choravam – se é que a homem tão ocupado com as misérias de França restava tempo para suspirar com as misérias da Tartária. E até talvez o muito divino S. Francisco, o adorável pobrezinho de Assis, irmão de todos os seres e para quem os próprios passarinhos das veigas de Itália eram irmãos muito queridos, não sentisse a sua costumada ternura, tão alvoroçada e activa, pelos pobres da Noruega, e não se reconhecesse inteiramente irmão dos pardaizinhos da Finlândia!
A superior sapiência das nações já formulou esta lei naquele seu fino adágio: «O coração não sente o que os olhos não vêem.» Para chorar é necessário ver. A mais pequenina dor que diante de nós se produza e diante de nós gema, põe na nossa alma uma comiseração e na nossa carne um arrepio, que lhe não dariam as mais pavorosas catástrofes passadas longe, noutro tempo ou sob outros céus. Um homem caído a um poço na minha rua mais ansiadamente me sobressalta que cem mineiros sepultados numa mina da Sibéria – e um carro esmagando a pata de um cão, em frente à nossa janela, é um caso infinitamente mais aflitivo do que a heróica e adorável Joana d’Arc queimada na praça de Ruão!
A distância e o tempo fazem das mais grossas tragédias ligeiras notícias – onde nenhum espírito são, bem equilibrado, encontra motivo de angústia ou pranto. Hoje certamente ninguém, a não ser algum velho e alto dignitário da Igreja ou do Estado, assistiria, com os olhos secos e o coração quieto, ao suplício de Joana d’Arc – mas nenhum fisiologista garantiria a sanidade intelectual de um sujeito que, na solidão da sua alcova, com as janelas cerradas, se desfizesse em lágrimas por os Ingleses terem outrora supliciado Joana d’Arc.
No entanto, vós observais, amigos, que já repetidamente chorastes (porque sois bons) com dores humanas, não somente sucedidas longe do vosso bairro, mas fora do vosso século; e algum mesmo me mostrará, como emblema irrecusável da confraternidade humana, o lenço sentidamente humedecido na véspera ao escutar os adeuses de Luís XVI aos filhos na prisão do Templo, ou mesmo a antiga Inês de Castro balbuciando as suas súplicas aos pés do antigo Afonso IV!
Decerto! E mesmo já muitas vezes tereis sufocado generosos soluços com misérias e tormentos de criaturas que só viveram no mundo aéreo da imaginação e do sonho. Mas quando, onde foi que assim vos comovestes, tão humanamente? Quando? Onde? No teatro, ou nas páginas de um romance, ou mesmo através dos sinceros versos de um poema, quando a arte, encarnando os seres dolorosos que concebeu ou ressuscitando com flagrante e magnífica realidade as figuras mortas da história, torna durante um momento essas criaturas, não somente vossas contemporâneas, mas vossas vizinhas, moradoras no bairro em que morais, respiradoras do ar que respirais, e pertencentes portanto àquela porção de humanidade próxima e tangível, cujas dores se partilham, porque confinam com as nossas... E depois, tal sujeito – que choramingou, no fundo do seu camarote, assistindo à morte da Dama das Camélias, morta pela milésima vez, na sua alcova de lona e papelão – recolherá a casa e lerá no jornal, com absoluta indiferença, mastigando a torrada, que duzentas mulheres, com os filhinhos nos braços, morreram afogadas num naufrágio, longe, nos mares da Indochina! Sim, amigos, essas duzentas mães afogadas nas vagas indochinesas certamente vos serão estranhas, e como não existentes! Se elas tivessem naufragado nos mares dos Açores, já sem dúvida tão patética nova vos arrancaria algum vago murmúrio de simpatia. Mas se elas houvessem perecido, elas e os pobres filhinhos, na baía do Rio de Janeiro, que incomparável catástrofe – e como vós correríeis pelas ruas, pálidos cheios de espanto!
Que digo eu? Para vos comover nem seriam necessárias duzentas desgraçadas – bastaria que naufragassem duas, se vós as conhecêsseis de nome e de rosto! Porque, segundo a cruel lei física que regula os fenómenos da emoção – um empregado da Alfândega que caiu de um barco e desapareceu na baía do Rio de Janeiro vale, para o habitante do Rio, mil pescadores despedaçados sobre os rochedos nas costas da Islândia!
Ah, esta abominável influência da distância sobre o nosso imperfeito coração!
Bem recordo uma noite em que, numa vila de Portugal, uma senhora lia, à luz do candeeiro, que dourava mais radiantemente os seus cabelos já dourados, um jornal da tarde. Em torno da mesa outras senhoras costuravam.
Espalhados pelas cadeiras e no divã, três ou quatro homens fumavam, na doce indolência do tépido serão de Maio. E pelas janelas abertas sobre o jardim entrava, com um sussurro das fontes, o aroma das roseiras. No jornal que o criado trouxera e ela nos lia, abundavam as calamidades. Era uma dessas semanas também em que pela violência da Natureza e pela cólera dos homens se desencadeia o mal sobre a Terra.
Ela lia as catástrofes lentamente, com a serenidade que tão bem convinha ao seu sereno e puro perfil latino. «Na ilha de Java um terramoto destruíra vinte aldeias, matara duas mil pessoas...» As agulhas atentas picavam os estofos ligeiros; o fumo dos cigarros rolava docemente na aragem mansa – e ninguém comentou, sequer se interessou pela imensa desventura de Java. Java é tão remota, tão vaga no mapa! Depois, mais perto, na Hungria, «um rio trasbordara, destruindo vilas, searas, os homens e os gados...». Alguém murmurou, através de um lânguido bocejo: «Que desgraça!» A delicada senhora continuava, sem curiosidade, muito calma, aureolada de ouro pela luz. Na Bélgica, numa greve desesperada de operários que as tropas tinham atacado, houvera entre os mortos quatro mulheres, duas criancinhas... Então, aqui e além, na aconchegada sala, vozes já mais interessadas exclamaram brandamente: «Que horror!... Estas greves!... Pobre gente!...» De novo o bafo suave, vindo de entre as rosas, nos envolveu, enquanto a nossa loura amiga percorria o jornal atulhado de males. E ela mesma então teve um «oh!» de dolorida surpresa. No Sul da França, «junto à fronteira, um trem descarrilando causara três mortes, onze ferimentos...» Uma curta emoção, já sincera, passou através de nós com aquela desgraça quase próxima, na fronteira da nossa península, num comboio que desce a Portugal, onde viajam portugueses... Todos lamentaríamos, com expressões já vivas, estendidos nas poltronas, gozando a nossa segurança.
A leitora, tão cheia de graça, virou a página do jornal doloroso, e procurava noutra coluna, com um sorriso que lhe voltara, claro e sereno.... E, de repente, solta um grito, leva as mãos à cabeça:
– Santo Deus!...
Todos nos erguemos num sobressalto. E ela, no seu espanto e terror, balbuciando:
– Foi a Luísa Carneiro, da Bela Vista... Esta manhã! Desmanchou um pé!
Então a sala inteira se alvorotou num tumulto de surpresa e desgosto.
As senhoras arremessaram a costura; os homens esqueceram charutos e poltrona; e todos se debruçaram, reliam a notícia no jornal amargo, se repastavam da dor que ela exalava!... A Luisinha Carneiro! Desmanchara um pé! Já um criado correra, furiosamente, para a Bela Vista, buscar notícias por que ansiávamos. Sobre a mesa, aberto, batido da larga luz, o jornal parecia todo negro, com aquela notícia que o enchia todo, o enegrecia.
Dois mil javaneses sepultados no terramoto, a Hungria inundada, soldados matando crianças, um comboio esmigalhado numa ponte, fomes, pestes e guerras, tudo desaparecera – era sombra ligeira e remota. Mas o pé desmanchado da Luísa Carneiro esmagava os nossos corações... Pudera! Todos nós conhecíamos a Luisinha – e ela morava adiante, no começo da Bela Vista, naquela casa onde a grande mimosa se debruçava do muro, dando à rua sombra e perfume.

742 - embuçado (embusteiro)

Quando os «pasços» são dados com a mão...
Árbitros de vermelho vestidos
Beija-mão real (ou papal, talvez)

741 - trocado por miúdos

Já tinha falado neste jogo.
Na altura não tinha dito (ficou só a insinuação) que conhecia o treinador-adjunto do Sporting (comentador deste nosso humilde «blog).
Boa análise ao jogo a que, também, assisti.
Concordo com a análise efectuada ao André, como já percebi através de consultas a algumas páginas vermelhas, parece que o puto não tem padrinhos ... vai acabar por vestir esperança.

740 - dor de cotovelo

Esta linda fotografia é do Porto, carago!
A neve não indiciava nada de bom, pelo menos serviu para refrescar os ânimos.

sexta-feira, maio 11, 2007

737 - o sargento e os recrutas (nós)

A César o que é de César e a Deus o que é [ Rodrigo Moita] de Deus...
Eu não diria melhor ... diria diferente...

ilustração: aqui

736 - royal, royal por el-rei de portugal


Camarada Alda, obviamente, foi um problema linguístico.
Então íamos eleger uma gaja chamada Royal?
Para quê?
Para acabar na guilhotina como os outros «royais»?

quinta-feira, maio 10, 2007

735 - fábula para acender uma esperança

Ao acordar e descer da cama, D. Hermínia espanta-se de ver o marido ainda deitado, em sono profundo. A essa hora tendo feito os exercícios para manter a forma, tomada a ducha de água fria, vestido a farda, engolido o café, devia estar no Ministério, jamais se atrasou. Exceptuando ocasiões excepcionais, somente tarde na noite, por vezes de madrugada, D. Hermínia punha os olhos em Sampaio. O coronel dizia e repetia com ênfase espartana que não se pertencia - seu tempo, seus cuidados, sua vida, pertenciam à causa. D. Hermínia se habituara.
O sono do esposo parece-lhe por de mais tranquilo. Aproxima-se, toca-lhe o rosto com os dedos, estava morto.
Metido no pijama, os olhos redondos e ingénuos semiabertos, não se assemelha a herói tombado no campo de batalha, a personagem maniqueísta símbolo do mal e do obscurantismo, SS nazista, chefe da Gestapo armado de chicote. Apenas um pobre homem morto estendido na cama, igual a tantos outros.
Lembra alguém. D. Hermínia vai buscar uma face no passado - parece o jovem segundo-tenente tímido e apaixonado que ela conhecera havia muito tempo, num outro tempo; declamava versos suplicando um beijo. D. Hermínia de repente se recorda, começa a chorar baixinho.
AMADO, Jorge, Farda Fardão Camisola de Dormir, Fábula para acender uma esperança, s.l., Publicacões Europa-América, s.d. [escrito em Pedra do Sal, Baía entre Janeiro e Junho de 1979] pp. 152-153

quarta-feira, maio 09, 2007

734 - fardas, uniformes... [2/2]

as RegRas não goveRnam os homens, estes é que goveRnam as regRas
Por vezes (às vezes) [não] agimos de acordo com aquilo que os outros esperam de nós.
Tudo tem um tempo, um ritmo, uma razão.
O «post» anterior não permite comentários (pois, não) é aborrecido e tal...
Há uma explicação para tudo (excepto para o inexplicável) não permiti comentários no «post» anterior, pois ele era, apenas, o primeiro de dois ... tipo não mexer nos produtos da montra.
Agora tenho um desafio para todas as minhas amigas (e todos os amigos) ... para que servem as fardas (se é que servem para algo)?
O meu pai foi militar profissional (acho que já tinha dito) o meu avô [o único que conheci] ferroviário (acho que já tinha dito) dois homens, duas fardas.

Curiosamente, a primeira farda que me lembro é da Dona Lucinda (a minha professora da escola primária) com uma bata branca [ela quase nunca usava bata].
Há fardas para todos os gostos, este senhor escreveu um livro que jamais esquecerei: Farda, Fardão, camisola de dormir...
As fardas não são de direita nem de esquerda, a palavra farda e fardo têm a mesma raíz etimológica: fard (árabe) numa tradução muito livre diria que farda é sinónimo de responsabilidade.
Ortega y Gasset dizia que o homem é o homem e a sua circunstância, eu diria que o homem é o homem e a sua farda ou se preferirem o homem e a sua máscara.
Uniforme é uma palavra romana, obviamente, duns gajos que chamam sinistra à esquerda, elegem Berlusconi (rir) e esta senhora, não podemos esperar grande coisa ... uniforme não é sinónimo de farda, uniformizar é tornar igual, tornar um, uniformizar é ter alguém que pense por nós.
Entre igualdade e liberdade prefiro esta última.
Comentem ou «mailem», digam-me...
O que acham, há diferenças entre uniformes e fardas?
Lembram-se da primeira farda que viram?
Haverá liberdade uniformizada?
Haverá igualdade fardada?
Porque não um deputado ou um bancário de ganga?
Porque não um mecânico de fato e gravata?
O hábito faz o monge?

terça-feira, maio 08, 2007

733 - fardas, uniformes... [1/2]





imagens (por ordem de entrada em cena)
............................................................... aqui
............................................................... aqui
............................................................... aqui

732 - não me chamo madeleine...

... nem sou loira, provavelmente, não estou viva.
sorte!
ver mais imagens aqui (não são de pessoas em férias)

segunda-feira, maio 07, 2007

731 - regionaliza...NÃO!

Será necessário explicar porquê?
foto: aqui

730 - «haveremos de esgadanhar-nos...»

... o livro explica!
afinal... esga-ganharam outros, sem dinheiros russos nem apitos dourados.

quinta-feira, maio 03, 2007

729 - ... amanhã não sabemos

Julgo que já falei num excelente «blog», com muito bom gosto (basta ver os «links», letra S) ... ora bem, Tomás Vasques (que não tenho o prazer de conhecer, pessoalmente) refere:
«Não consigo entender os fundamentos que sustentam o pedido do PS, PCP e BE para que seja dissolvida a Assembleia Municipal de Lisboa, um órgão com legitimidade própria, composto por representantes dos diversos partidos. E porque não a dissolução das 53 juntas de Freguesia? Assim, mesmo não entendendo o argumento, reconhecia-lhe coerência.»
... pois é, amigo ... a dissolução da assembleia implicará (espero não estar a dizer nenhum disparate) a dissolução das 53 juntas de freguesia.
Os (as) presidentes de junta são por inerência membros da assembleia municipal, uma coisa implicaria a outra (digo eu).

ilustração: ?
... aqui!

alterado em 2007.05.06

Estava mesmo a dizer um disparate, mão amiga fez-me chegar o seguinte esclarecimento:
A Assembleia Municipal de Lisboa é composta por 54 membros eleitos directamente para aquele órgão. A estes juntam-se os 53 presidentes de Juntas de Freguesia.
A dissolução da Assembleia Municipal não acarreta a queda das Juntas de Freguesia, cuja eleição é autónoma. Dissolvida a Assembleia Municipal realizam-se eleições para esse órgão, ou seja serão eleitos 54 membros novos aos quais se irão juntar os 53 presidentes de Juntas de Freguesia eleitos nas eleições anteriores,caso não haja eleições para estes orgãos. Aliás, só por vontade própria dos membros das Juntas de Freguesia, renunciando em bloco aos seus mandatos, aquele órgão pode ser dissolvido e dar lugar a eleições antecipadas, independentemente de se realizar eleições intercalares para a Câmara ou para a Câmara e a Assembleia.

728 - a horta do camões

Obviamente, o executivo vai demitir-se (a transparência e tal ... não é só em Lisboa, pois, não?)

727 - um ano ...

... passou!

(mais logo a «liberdade» nas assembleias municipais de Constância e as alterações na horta de Camões)

726 - from liverpool with love

Yo digo alto, tú dices bajo
Tú dices por qué, y yo digo no lo sé (José)
Oh no
Tú dices adiós, y yo digo hola
Hola, hola

terça-feira, maio 01, 2007

725 - mais uma lição de futebol

Este «blog» está a transformar-se numa coisa dedicada ao «pontapé na borracha».
Ensinar vale a pena, ter paciência para ensinar imigrantes*, vale muito a pena.
Foi emociante ver o modo como as crianças da Academia, explicaram como dominar uma bola, como fazer um passe, como marcar um golo.
No banco o treinador adjunto mostrava que já interiorizou a grande máxima do clube: tranquilidade (levantou-se apenas para cumprimentar os jogadores que foram substituídos).
* o jovem chinês a única coisa que fez foi passear a cor amarela** em campo. É um avançado assim tipo Nuno Gomes (não fez um único remate à baliza) mas sem bandolete.
** das chuteiras Nike

724 - onde é que já vi isto?

Talvez, num «blog»?
Embora a imagem d' A Bola tenha sido retocada continuo a achar que já a vi antes...

723 - dia de trabalha(dor)

ilustração: aqui
não é o fim, nem o princípio do fim, é o fim do princípio