quinta-feira, junho 30, 2005

8 - dar fé

O povo (qualquer dia publico um "post" sobre o povo) tem uma definição boa para isto: "Presunção e água benta cada um toma a que quer". Assim é, assim sou. Presumido q.b., água benta nem por isso.
Crente ou agnóstico? Com fé ou com uma fézada?
Agnóstico e ateu será o mesmo?
Um olhar no dicionário mostra-nos que não. O agnóstico declara inacessível o absoluto ao espírito humano (não o nega, portanto).
O ateu é um descrente, aquele que não acredita na existência de Deus. Parecem conceitos simples mas tentem levá-los até às últimas consequências, há pontos onde se confundem, outros onde se contradizem e por último parece quase impossível ter-se uma ideia de Deus e este não existir.
Até porque como humanos a concretização do pensamento só adquire substância num plano real, é, virtualmente, impossível concretizarmos o irreal.
Quando falo de Deus, como é óbvio, não me refiro à Santíssima Trindade de Santa Margarida da Coutada (o Divino Espírito Santo), não, refiro-me à ideia de Deus como ser supremo.
Uma árvore, para alguns, o mar, para outros, deuses com características humanas (que aparecem em todas as grandes civilizações que hoje conhecemos) etc, etc, etc. (penso que deu para perceber a ideia).
Quer queiramos quer não a nossa identidade (ocidental) está ligada a uma moral judaico-cristã, os nossos valores "movimentam-se" dentro desse quadro de valores, quer tenhamos ou não consciência deles.
O certo e o errado. O bem e o mal. A culpa e a desculpa. Em última análise remetem-nos sempre para um referente. Dum lado o peso do outro o "pesado".
Não é por acaso que o símbolo da justiça é uma mulher vendada segurando uma balança de braços.
Tudo o que existe só faz sentido quando comparado.
Um poeta popular - António Aleixo - (quase analfabeto) resume tudo nesta quadra:
"Que diriam do honesto
Se não houvesse o velhaco
O forte vale e de resto
O seu valor vem do fraco".

7 - a educação que temos

Neste texto vamos procurar efectuar uma reflexão sobre aquilo que é a educação hoje e aquilo que poderia ser.
Socorro-me de algumas palavras de Helena Matos publicadas na edição de 2005.04.02 do "Público": "Da televisão ao sexo, sem esquecer a alimentação e o código da estrada, tudo se considera que deve ser ensinado na escola. Corrijo, tudo não. A matéria propriamente dita -como o Português, a Matemática, a Física...-foi progressivamente desvalorizada."
A questão da educação deverá ser abordada nas várias vertentes que a constituem. Desde logo não se poderá separar o aluno do meio onde se movimenta, o papel dos pais não poderá ser ignorado.
Outra questão que deverá ser colocada é se a escola existe para transmitir saberes e competências aos alunos ou para proporcionar emprego aos professores.
Quanto à questão da desvalorização da matéria, fundamentalmente, da Língua Portuguesa parece-me que não é uma questão só de hoje. Que dizer quando um "escritor" como Miguel Sousa Tavares escreve um livro cheio de "pontapés na gramática" já para não falar nos artigos com que semanalmente nos brinda (Público, A Bola) ou quando o próprio presidente da república num comunicado oficial onde dissolve a assembleia escreve: "o País assistiu a uma série de episódios que ensombrou decisivamente a credibilidade do Governo" (Diário de Notícias, 2004.12.11).
Está tudo dito, não é?
Voltaremos a este tema.

6 - de punhete a constância

Um "post" sobre o passado, o presente e, essencialmente, sobre o futuro. Como podem as nossas opções condicionar o futuro, como está o nosso presente a ser condicionado por atitudes que tomámos no passado.
"Entre ficar e partir nem sempre é fácil decidir" cantavam os "Táxi" numa canção manhosa - O fio da navalha - é verdade entre agir e ficar de braços cruzados, por vezes, não é fácil optar.
Acredito que o colectivo está acima do individual, da mesma maneira que creio que é mais importante a liberdade que a igualdade.
Melhor, portanto, a acção que a contemplação.
Antes a fricção de Punhete que o imobilismo de Constância.

segunda-feira, junho 27, 2005

5 - os velhos

Lembro-me de ter pensado: quando isso acontecer já estou velho, já tenho 32 anos, que se lixe, já vivi o que tinha a viver. O que era o "isso"? O isso era o ano 2000.
"Se aos 1000 chegarás, dos 2000 não passarás" dizia a minha avó.
Aquilo para mim era certo e sabido, da mesma maneira que depois do Sol vinha a Lua e depois desta, aquele.
O tempo, naquele tempo, não durava o mesmo que o tempo deste tempo.
A frase anterior (se não tivesse sido eu a escrevê-la) é daquelas que criticaria...blá, blá, blá, aparentemente, não tem conteúdo.
Olhando para além das aparências constatamos que o tempo não é sempre igual.
O tempo (uma hora) para quem espera é sempre muito mais longo(a) que o mesmo tempo (a mesma hora) para quem está atrasado.
Todos caminhamos para a velhice, que saibamos construir/proporcionar uma velhice digna, activa, útil e necessária às pessoas que nos deram tanto.
Os velhos de hoje são as crianças de ontem.
Nós somos os velhos de amanhã.
Procuremos, pois, proporcionar aos nossos velhos uma velhice confortável para que não se sintam um fardo mas sim transmissores de cultura.
Um velho, cada velho é muito mais importante que um quilómetro de estrada alcatroada.

4 - porquê?

1-Punhete nas memórias paroquiais
2-Cavaleiro monge.
3-Cuida do mais importante.
Estes são os títulos dos "posts" que publiquei até agora.
O primeiro tinha (teve) como objectivo: divulgar um documento esquecido na Torre do Tombo (em Lisboa).
Mostra-nos alguma da nossa História, através daquilo que (não) revela e do modo como o faz - o conteúdo e a forma.
O segundo um poema de Fernando Pessoa.
Não é em vão que se é munícipe da vila poema.
Detenhamo-nos no último verso de cada uma das estrofes:
Caminhais aliados, a solidariedade;
Caminhais secretos, o sigilo (a responsabilidade);
Caminhais libertos: a liberdade;
Caminhais sozinhos; a voluntariedade e por último:
Caminhais em mim. Valores nos quais o autor se reconhecia, valores nos quais me reconheço.
O maior de todos a Liberdade (não é pelo facto de reconhecer publicamente que admiro a poesia de Fernando Pessoa que vão dar o nome do poeta à minha rua, ou é?).
O terceiro uma história com uma moral que é a seguinte: os seres vivos são sempre mais importantes que as coisas. Mais importante o sorriso duma criança ou dum velho (velho, sim, não tenhamos medo das palavras) que uma estrada de alcatrão.

quinta-feira, junho 02, 2005

3 - cuida do mais importante

Esta é uma história um pouco moralista, mas que nos deixa a pensar quando a acabamos de ler. Pela mensagem que nela está contida, desculpa-se o português "abrasileirado".

"Era uma vez o jovem que recebeu do rei a tarefa de levar uma mensagem e alguns diamantes a um outro rei de uma terra distante. Recebeu também o melhor cavalo do reino para levá-lo na jornada. "Cuida do mais importante e cumprirás a missão!", - disse o soberano ao se despedir. Assim, o jovem preparou o seu alforje, escondeu a mensagem na bainha da calça e colocou as pedras numa bolsa de couro amarrada à cintura, sob as vestes. Pela manhã, bem cedo, sumiu no horizonte. E não pensava sequer em falhar. Queria que todo o reino soubesse que era um nobre e valente rapaz, pronto para desposar a princesa. Aliás, esse era o seu sonho e parecia que a princesa correspondia às suas esperanças. Para cumprir rapidamente sua tarefa, por vezes deixava a estrada e pegava atalhos que sacrificavam sua montaria. Assim, exigia o máximo do animal. Quando parava em uma estalagem, deixava o cavalo ao relento, não lhe aliviava da sela e nem da carga, tampouco se preocupava em dar-lhe de beber ou providenciar alguma ração. "Assim, meu jovem, acabarás perdendo o animal." - disse alguém. "Não me importo." - respondeu ele. "Tenho dinheiro. Se este morrer, compro outro. Nenhuma falta fará!" Com o passar dos dias e sob tamanho esforço, o pobre animal não suportando mais os maus tratos, caiu morto na estrada. O jovem simplesmente o amaldiçoou e seguiu o caminho a pé. Acontece que nessa parte do país havia poucas fazendas e eram muito distantes umas das outras. Passadas algumas horas, ele se deu conta da falta que lhe fazia o animal. Estava exausto e sedento. Já havia deixado pelo caminho toda a tralha,com exceção das pedras, pois lembrava da recomendação do rei: "Cuide do mais importante!" Seu passo se tornou curto e lento. As paradas, freqüentes e longas. Como sabia que poderia cair a qualquer momento e temendo ser assaltado, escondeu as pedras no salto de sua bota. Mais tarde, caiu exausto no pé da estrada,onde ficou desacordado. Para sua sorte, uma caravana de mercadores que seguia viagem para o seu reino, o encontrou e cuidou dele. Ao recobrar os sentidos,encontrou-se de volta em sua cidade. Imediatamente foi ter com o rei para contar o que havia acontecido e com a maior desfaçatez, colocou toda a culpa do insucesso nas costas do cavalo "fraco e doente" que recebera. "Porém, majestade, conforme me recomendaste, "cuidar do mais importante", aqui estão as pedras que me confiaste. Devolvo-as a ti. Não perdi uma sequer." O rei as recebeu de suas mãos com tristeza e o despediu, mostrando completa frieza diante de seus argumentos. Abatido, o jovem deixou o palácio arrasado. Em casa, ao tirar a roupa suja, encontrou na bainha da calça a mensagem do rei,que dizia: "Ao meu irmão, rei da terra do Norte. O jovem que te envio é candidato a casar com minha filha. Esta jornada é uma prova. Dei a ele alguns diamantes e um bom cavalo. Recomendei que cuidasse do mais importante. Faz-me,portanto,este grande favor e verifique o estado do cavalo. Se o animal estiver forte e viçoso, saberei que o jovem aprecia a fidelidade e força de quem o auxilia na jornada. Se porém, perder o animal e apenas guardar as pedras,não será um bom marido nem rei, pois terá olhos apenas para o tesouro do reino e não dará importância à rainha nem àqueles que o servem". Comparo esta história com o ser humano que segue sua jornada na vida, tão preocupado com seu exterior, isto é, com os bens, que tudo guarda como se fosse ouro, esquecendo de alimentar sua alma e espírito com a alegria e o amor de Deus. Certamente não cumprirá a missão, já que não sabe guardar o que é mais importante !"

Autor Desconhecido
não é o fim, nem o princípio do fim, é o fim do princípio